Wednesday, November 29, 2006

GRAMSCI E
O SOCIALISMO BRASILEIRO
Anatoli Oliynik -
www.samauma.com.br

Em lugar algum no mundo o pensamento de Gramsci foi tão disciplinadamente aplicado
como está sendo no Brasil.
Inicialmente, pelo governo anterior, e agora pelo atual, cuja nomenklatura[1] segue
com rigor as orientações dos intelectualóides que compõem o Foro de São Paulo e que
têm como cartilha os Cadernos do Cárcere, de Gramsci.
Quem não está familiarizado com as ideologias políticas, por certo estará perguntando:
Quem foi Gramsci e qual sua relação com o “socialismo” brasileiro?
Antonio Gramsci (1891-1937), filósofo e político foi um dos fundadores do Partido
Comunista Italiano, em 1921, e o primeiro teórico marxista
a defender que a revolução na Europa Ocidental teria que se desviar muito
do rumo seguido pelos bolcheviques russos, capitaneados por
Vladimir Illitch Ulianov Lênin (1870-1924) e seguido por Iossif Vissirianovitch
Djugatchvili Stalin (1879-1953).
Durante sua prisão na Itália em 1926, que se prolongou até 1935, escreveu
inúmeros textos sobre o comunismo os quais começaram a ser publicados
por partes na década de 30, e integralmente em 1975, sob o título Cadernos do Cárcere.
Esta publicação, difundida em vários continentes, passou a ser o
catecismo das esquerdas, que viram nela uma forma muito mais potente de
realizar o velho sonho de implantar o totalitarismo, sem que fosse necessário o
derramamento de sangue, como ocorreu na Rússia, na China, em Cuba, no Leste
Europeu, na Coréia do Norte e no Vietnã do Norte, países que se tornaram vítimas
da loucura coletiva detonada por ideólogos mentecaptos.
Gramsci professava
que a implantação do comunismo não deve se dar pela força, como aconteceu
na Rússia, mas de forma pacífica e sorrateira, infiltrando,
lenta e gradualmente, a idéia revolucionária.
A estratégia é utilizar-se de diplomas legais e de ações políticas
que sejam docilmente aceitas pelo povo, entorpecendo consciências
e massificando a sociedade com uma propaganda subliminar, imperceptível
aos mais incautos que, a priori, representam a grande maioria da população,
de modo que, entorpecidos pelo melífluo discurso gramsciano, as consciências
já não possam mais perceber o engodo em que estão sendo envolvidas.
A originalidade da tese de Gramsci reside na substituição da noção de
“ditadura do proletariado” por “hegemonia do proletariado” e “ocupação de espaços”,
cuja classe, por sua vez, deveria ser, ao mesmo tempo, dirigente e dominante.
Defendia que toda tomada de poder só pode ser feita com alianças e que o trabalho
da classe revolucionária deve ser primeiramente, político e intelectual.
A doutora Marli Nogueira, juíza do trabalho em Brasília, e estudiosa do assunto,
nos dá a seguinte explicação sobre a “hegemonia”:
“A hegemonia consiste na criação de uma mentalidade uniforme em torno de
determinadas questões, fazendo com que a população acredite ser correta esta
ou aquela medida, este ou aquele critério, esta ou aquela ´análise da situação,
de modo que quando o comunismo tiver tomado o poder, já não haja
qualquer resistência.
Isto deve ser feito, segundo ensina Gramsci, a partir de diretrizes indicadas
pelo ´intelectual coletivo´ (o partido), que as dissemina pelos
´intelectuais orgânicos´ (ou formadores de opinião), sendo estes constituídos de
intelectualóides de toda sorte, como professores – principalmente
universitários (porque o jovem é um caldo de cultura excelente para isso),
a mídia (jornalistas também intelectualóides) e o mercado
editorial (autores de igual espécie), os quais, então, se encarregam de
distribuí-las pela população”.Quanto à “ocupação de espaços”, pode ser claramente
vislumbrada pela nomeação de 20 mil cargos de confiança pelo PT
em todo o território brasileiro, cujos detentores têm a missão de fazer
a conexão com a primeira técnica – a “hegemonia”.
Retornando a Gramsci e segundo ele, os principais objetivos de luta
pela mudança são conquistar, um após outro, todos os instrumentos de
difusão ideológica (escolas, universidades, editoras, meios de comunicação social,
sindicatos etc.), uma vez que, os principais confrontos ocorrem na esfera cultural
e não nas fábricas, nas ruas ou nos quartéis.
O proletariado precisa transformar-se em força cultural e política, dirigente dentro
de um sistema de alianças, antes de atrever-se a atacar o poder do Estado-burguês.
E o partido deve adaptar sua tática a esses preceitos, sem receio de parecer que
não é revolucionário.
Isso o povo brasileiro não está percebendo, pois suas mentes já foram entorpecidas
pelo sistema de governo, especialmente o último e o atual.
Desta forma, Gramsci abandonou a generalizada tese marxista de uma
crise catastrófica que permitiria, como um relâmpago, uma bem sucedida intervenção
de uma vanguarda revolucionária organizada.
Ou seja, uma intervenção do Partido. Para ele, nem a mais severa recessão do
capitalismo levaria à revolução, como não a induziria nenhuma crise econômica,
a menos que, antes, tenha havido uma preparação ideológica.
É exatamente isto que está acontecendo no presente momento aqui no Brasil:
A preparação ideológica.
Segundo a doutora Marli Nogueira:“É essa "hegemonia" que faz com que
todos os brasileiros, independentemente da idade, da condição sócio-econômica e
do grau de instrução que tenham atingido, pensem de maneira uniforme
sobre todo e qualquer assunto, nacional ou internacional.
O poder de manipulação é tamanho, que até mesmo o senso crítico
fica completamente imobilizado, incapaz de ajudar o indivíduo a analisar
as questões de maneira isenta.
Os exemplos são numerosos: do desarmamento, ao aborto, da guerra do
Iraque à eutanásia, do movimento gay às políticas sociais, do racismo ao
trabalho escravo, da inculpação social pelos crimes individuais à aceitação
do caráter ´social´ de movimentos guerrilheiros (MST, FARC, MIR, ETA, etc.),
todos eles visando destruir, por completo, valores que a sociedade tinha
entranhados em sua alma, mas que, justamente por isso, não servem
aos interesses do partido.
É que esses valores representam um conjunto de virtudes diametralmente opostas
aos conceitos que o partido deseja inserir no corpo social e que servirão de
embasamento para as transformações que pretende implantar”.
“Uma vez superada a opinião que essa mesma sociedade tinha a respeito de
várias questões, atinge-se o que Gramsci denominava ´superação do senso-comum´,
que outra coisa não é senão a hegemonia de pensamento.
Cada um de nós passa, assim, a ser um ventríloquo a repetir, impensadamente,
as opiniões que já vêm prontas do forno ideológico comunista.
E quando chegar a hora de dizer ´agora estamos prontos para ter realmente uma
´democracia´ (que, na verdade, nada mais é do que a ditadura do partido),
aceitaremos também qualquer medida que nos leve a esse rumo, seja ela a
demolição de instituições, seja ela a abolição da propriedade privada, seja ela
o fim mesmo da democracia como sempre a entendemos até então, acreditando
que será muito normal que essa ´volta à democracia´ se faça por decretos,
leis ou reformas constitucionais”.Lênin sustentava que a revolução deveria
começar pela tomada do Estado para, a partir daí, transformar a sociedade.
Gramsci inverteu esses termos: a revolução deveria começar pela transformação
da sociedade, privando a classe dominante da direção da “sociedade civil” e, só então,
atacar o poder do Estado. Sem essa prévia “revolução do espírito”, toda e qualquer
vitória comunista seria efêmera.
Para tanto, Gramsci definiu a sociedade como “um complexo sistema de relações ideais
e culturais” onde a batalha deveria ser travada no plano das idéias religiosas, filosóficas,
científicas, artísticas etc.
Por essa razão, a caminhada ao socialismo proposta por Gramsci não passava pelos
proletariados de Marx e Lênin e nem pelos camponeses de Mão Tse Tung, e sim pelos
intelectuais, pela classe média, pelos estudantes, pela cultura, pela educação e pelo efeito multiplicador dos meios de comunicação social, buscando, por meio de métodos
persuasivos, sugestivos ou compulsivos, mudar a mentalidade, desvinculando-a do
sistema de valores tradicionais, para implantar os valores da ideologia comunista.
Fidel Castro, com certeza, foi o último dinossauro a adotar os métodos de Lênin.
Poder-se-á dizer que Fidel é o último dos moicanos às avessas considerando que
seus discípulos Chávez, Lula, Vasquez e Zapatero, estão aplicando, com sucesso,
as teses do Caderno do Cárcere, de Antônio Gramsci.Todos os valores que a
civilização ocidental construiu ao longo de milênios vêm sendo sistematicamente
derrubados, sob o olhar complacente de todos os brasileiros, os quais, por uma
inocência pueril, seja pelo resultado de uma proposital fraqueza do ensino, seja
por uma ignorância dos reais intentos das esquerdas, nem mesmo se dão conta
de que é a sobrevivência da própria sociedade que está sendo destruída.
Perdidos esses valores, não sobra sequer espaço para a indignação que, em outros
tempos, brotaria instantaneamente do simples fato de se tomar conhecimento dos
últimos acontecimentos envolvendo escancaradas corrupções
em todos os níveis do Estado.
O entorpecimento da razão humana, com o conseqüente distanciamento entre
governantes e governados, já atingiu um ponto tal que, se não impossibilitou,
pelo menos tornou extremamente difícil qualquer tipo de
reação por parte do povo.
Estando os órgãos responsáveis pela sua defesa – imprensa, associações civis,
empresariado, clero, entre outros – totalmente dominados pelo sistema de governo
gramsciano que há anos comanda o País, o resultado não poderia ser outro:
a absoluta indefensabilidade do povo brasileiro.
A este, alternativa não resta senão a de assistir, inerme e inerte, aos abusos e desmandos
daqueles que, por dever de ofício, deveriam protegê-lo em todos os sentidos.
A verdade é que os velhos métodos para implantação do socialismo-comunismo
foram definitivamente sepultados. Um novo paradigma está sendo adotado,
cuja força avassaladora está sendo menosprezada, e o que é pior, nem percebido
pelo povo brasileiro.O Brasil está sendo transformado, pelas esquerdas, num
laboratório político do pensamento de Gramsci sob a batuta do aluno aplicado,
que deseja superar ao “velho mestre moicano, às avessas”.( * )
Anatoli Oliynik (59) formado em administração e estudos sociais, é membro da
Academia de Cultura de Curitiba.
Artigo escrito em 14/6/2005.privilegiada, dos países da antiga Cortina de Ferro
(Aurélio sec. XXI). O Aurélio aportuguesa a grafia para nomenclatura,
mas atina com a acepção internacional atual dessa palavra de origem russa.

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